segunda-feira, 19 de julho de 2010

PSICOLOGIA SOCIAL E EDUCAÇÃO

Na psicologia sócio-histórica o humano é social e historicamente construído, assim como, produtor da cultura e da história e sua intervenção no âmbito escolar pauta-se na análise das situações educativas considerando aspectos históricos, econômicos, políticos, sociais, etc. (STREY, 1998).

Citando Para Paulo Freire (1983) a autora diz que cabe aos profissionais atuantes na educação, constituírem-se como trabalhadores sociais comprometidos com o processo de mudança. O papel do Psicólogo, aqui, seria de refletir e conscientizar sobre as realidades da sociedade. Sua função é de uma atuação conjunta e coletiva de uma nova práxis educativa, redimensionando as relações sociais estabelecidas no contexto educacional. (STREY, 1998)

As relações sociais caracterizam-se como palco onde as significações são produções coletivas e nessas relações o homem se constituiria como sujeito. Cabe, assim, um redirecionamento das relações sociais com acesso ao conhecimento historicamente produzido sendo direito de todos. A atuação do Psicólogo é uma atuação voltada para a cidadania que concorda com a possibilidade de sujeitos que possam se apropriar dos bens socialmente construídos e que possam atuar como construtores da sociedade. A função do Psicólogo social é de transformação social. (Op. Cit.)

Segundo Bock (2003), as crianças não aprendem o que existe em seu mundo cultural e cotidiano pois as informações não correspondem à realidade vivida. A escola se pensou como uma fortaleza protetora onde há o aperfeiçoamento dos educandos que ali são formados para servir à sociedade. A idéia chave dessa pedagogia é a de um homem livre, dotado de potencialidades humanas naturais desenvolvidas ao aproveitar as oportunidades dadas pelo meio. A autora cita que a única tarefa realista para os governos é procurar a melhoria de oportunidades.

O trabalho escolar torna-se o desenvolvimento de potencialidades naturais. Conteúdos escolares surgem como conhecimentos universais que nada tem a ver com a vida e tal aprendizado passa a ser uma possibilidade de desenvolvimento humano e não uma contribuição para a compreensão da realidade cotidiana. O professor é quase divino e possuidor da verdade e da cultura. O mecanismo de pensamento operante nesta construção é a redução do que é de natureza social a questões individuais e as conseqüências de tais idéias são várias. (BOCK, 2003)

A primeira idéia que surge é de que a educação exige esforço próprio. Que todos os homens são dotados de força própria capaz de garantir seu próprio processo de individuação. Sendo assim, passa a ser cobrado do aluno o esforço e seu fracasso é tido como falta de empenho, sendo diagnosticado como quem apresenta “problemas de aprendizagem” e a escola se torna isenta da responsabilidade social de educar. (Op. Cit.)

A segunda idéia é de uma educação vista como determinante do lugar social do indivíduo (sendo que na realidade é o inverso). A educação é tornada como passaporte para sociedade, e na realidade é o lugar social dos indivíduos que permite maior ou menos grau de escolaridade. As pessoas de baixo poder aquisitivo tem grande dificuldade de se sustentarem na escola (locomoção, obtenção dos objetos escolares, lugar para estudar, tempo de estudo, apoio dos pais e principalmente familiaridade com o conteúdo escolar).

Outra idéia é de uma educação que responsabiliza o indivíduo pelo fracasso escolar. Tal idéia de potencialidades naturais humanas e do esforço para aproveitar determinadas oportunidades oferecidas gera a idéia de que quem fracassa não fez o esforço necessário. Surge então a idéia de Fracasso Escolar. É preciso superar a visão de homem que sustenta teorias pedagógicas dominantes. As crianças pobres levam para escola tudo o que possuem e as constitui. A escola não é somente lugar de pessoas saudáveis, inteligentes e felizes. Quando o aluno tem uma vida que dificulta o aprendizado, a escola precisa saber ensinar a ele facilitando o aprendizado. “Não há dificuldade de aprendizagem; há dificuldade do processo de ensino-aprendizagem” e a escola deve estar implicada na questão. (BOCK, 2003)

A quarta idéia surge com a relação do estado e da sociedade com a escola. Tal situação é ignorada ou desconhecida. A escola é uma instituição social que serve ao estado. Ela ensina regras de conduta, divulga conhecimentos, privilegia valores, reforça visões de mundo e de realidade, ensina relações com o trabalho e promove a formação para produção da vida. Há disputas de projetos políticos para a educação. Desde as verbas para a educação, até seu papel e sua relação com o trabalho e com a sociedade, vão fazer com que diferentes exigências sejam feitas para a escola. A escola aparece como algo acima dos interesses políticos sociais cumprindo sua tarefa divida de desenvolvimento do “natural e universal” tornando a educação despolitizada. A crise da educação brasileira não é uma crise... é um projeto. (Op. Cit.)

A política educacional instalada nos anos 90 envolve um projeto educacional que valoriza a escola como propiciadora de índices de qualificação de mão de obra para disputas no mercado internacional. Há a privatização da educação e formas de avalização geral do produto alcançado (ENEM). As políticas públicas da educação são cada vez menos públicas, cada vez menos responsabilidade do setor público, do estado ao mesmo tempo em que atendem à política dominante e neoliberal do Estado.(Op. Cit.)

Bock (2003) define a quinta idéia como algo que surge com a desvalorização da política. As questões vividas na escola são traduzidas em questões morais e de comunicação e nunca questões sociais ou políticas. A escola deixa de aprofundar a compreensão da realidade, trazendo elementos históricos que nos permitem compreender os conflitos vividos.

A mesma autora cita a problemática da sexta idéia como a patologização da pobreza. As teorias pedagógicas são construídas nos países de primeiro mundo. A escola é continuidade da vida das camadas médias e altas. A escola é rompimento para as camadas de baixo poder aquisitivo. A escola ensina: a criança não aprende. Conclui-se que é da criança as dificuldades de aprendizagem, forma de patologizar a pobreza. A criança abandona a escola e depois é vista como alguém que não se esforçou o suficiente para desenvolver suas potencialidades. (BOCK, 2003)

A sétima idéia é da família que passa a ser responsabilizada. O modelo de família burguesa é utilizado como padrão da normalidade (a composição da família nuclear: pai, mãe, irmãos) o eu causa a patologização da diferença. São muitas as formas nas quais os grupos se organizam e diferentes formas de organização trazem diferentes experiências. Mas a escola não quer trabalhar com as diferenças... (Op. Cit.)

A oitava idéia é a de desvalorização do senso comum. Não valorizar saberes populares é desvalorizar as pessoas que sabem aquele saber. Impõe-se “a verdade” como único saber possível e válido e desvaloriza a experiência do aluno e o cotidiano. A escola trabalha para que ela seja a única referência a ser utilizada e não contextualiza a construção do saber. A escola aparece como redentora e a salvação dos problemas sociais.

A última idéia abordada pela autora seria a escola vista como possibilidade de superar as desigualdades sociais. A realidade escolar é pensada como uma realidade purificada que prepara indivíduos para a construção de uma sociedade melhor. Ela acredita que oferecendo oportunidade a todas as crianças para o estudo estará trabalhando para o fim da desigualdade social. Mas a escola é completamente cega à diferença social de seus alunos. Há em todo saber construído e divulgado pelas teorias pedagógicas dominantes uma clara intensão de ocultar a realidade social, produtora das idéias e desigualdades que aparecem na escola.

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