segunda-feira, 19 de julho de 2010

IDÉIAS COMPLEMENTARES

Partindo da idéia de uma realidade construída socialmente e que esta é uma produção que abrange as relações de sujeitos que interagem num determinado espaço de tempo e lugar pensamos a língua como possibilidade de construção da realidade. A construção de um sujeito social está diretamente ligada às suas relações e com essas relações aprendemos a língua falada em nosso lugar. A idéia é de que o mundo se faz, também, com palavras e, aqui, estamos questionando com quais palavras estamos construindo o mundo em que vivemos e que mundo está sendo permitido construir quando a língua também é relação de poder.

É importante destacar o conceito de língua como produção de realidades quando se quer abordar a própria língua como produção de subjetividade. Aqui, temos a Língua Portuguesa como algo que é ensinado de maneira a não se considerar a realidade de quem a aprende e se comunica com ela. Aqui, levaremos em conta a ineficiência de políticas que incentivam um ensino não criador, mas, reprodutor, e por isso destacamos a importância de se pensar a idéia dos vestibulares.

Enfatizamos a importância de se atentar para as possíveis conseqüências de tais ações, de repensarmos o papel da psicologia no território da educação, de reformularmos teorias que afirmam individualidades problemáticas com “dificuldade de aprendizagem”, analisar criticamente a patologização de classes sociais, mais precisamente da pobreza e outros aspectos relacionados a uma educação que não se atenta para o aprender a pensar, a construir, a saber, a criticar e fazer parte da construção social e cultural do país.

Ensinar uma língua e trabalhar com linguagem é também produção de conceitos, é também tradução de sentidos que inventamos e concordamos e é sem dúvida trabalhar junto à subjetividade. Precisamos nos questionar, no ato de ensinar, que tipo de alunos estamos produzindo, que tipo de cidadãos estamos formando, que língua estes estão aprendendo, que tipo de realidade estes estão concordando em reproduzir ou que padrões de sujeitos são produzidos como efeito de determinada prática educativa oficializada no país.

O processo de educar se torna complexo quando precisamos assumir uma postura que implica sermos melhores seres humanos antes de sermos melhores professores. Se justificamos tal situação por nos encontrarmos em uma ditadura disfarçada, que nos perguntemos quem são os ditadores que reproduzem a idéia de alunos incapazes de criar.

Para termos alunos capazes de um pensamento crítico sobre sua realidade, é necessário que estes tenham antes de tudo educadores críticos que não reproduzam sujeitos baseados num “estilo” de vida que não admite diversidades. Se há políticas públicas que incentivam um tipo de ensino que aqui criticamos, que nos perguntemos como as ideologias subjacentes a tais políticas são produzidas e quem admite tais políticas atuando como quem a obedece.

Atentamos junto à produção de subjetividade a idéia de promover possíveis mudanças nas instituições escolares ampliando a consciência que o sujeito possui sobre realidades, para ser possível transformar, criar condições para produção de novos sentidos. Questionamos a noção de alunos que não aprendem por conta de uma política que não educa seus educadores, e por isso, damos importância a um ensino não fascista destacando as relações intersubjetivas e uma produção de educação apoiada em micropolíticas englobando modos de subjetivação contemporâneos.

A psicologia também é grande responsável por produções de conceitos que concordaram em grande parte e por muito tempo, com atuações que vão contra projetos que incentivem um ensino diferenciado voltado para formação de sujeitos autônomos, por exemplo. Seja como produtora de conceitos e diagnósticos que perpassam por “fracassos escolares” ou como quem atuou tentando padronizar comportamentos de alunos, a psicologia teve seu papel, sim, mas, sem se atentar criticamente aos projetos sociais que anulam os alunos e as suas singulares produções de realidades.

Como diz Bock (2003), não temos colaborado como educadores para a compreensão dos educandos sobre a realidade social e para que isso seja mudado é preciso uma educação que se baseie em teorias que escapem das perspectivas naturalizantes e universais sem levar em conta o processo social e histórico de construção da humanidade.

A educação tem uma finalidade social e a prática educativa promove uma determinada sociedade e um determinado tipo de cidadão. Aprender é criar e não repetir. É construir e reconstruir, é constatar para mudar. Toda prática educativa demanda a existência de sujeitos. Educar é aprender ao ensinar e ensinar ao aprender. A escola produz saberes sobre a realidade e aproxima sua compreensão e crítica. A escola é lugar de conflito, de relações construtivas e sua tarefa é a construção da compreensão crítica da realidade e da produção de transformações sociais. (BOCK, 2003)

Para a mesma autora a análise psicológica deve incidir sobre os processos e não sobre a estabilidade e neutralidade do real. O trabalho do Psicólogo é de investigação do processo, da história e das contradições para uma intervenção na realidade institucional da educação. A escola é uma instituição fundamental ao capitalismo com a função de difundir valores, normas, conhecimentos que justifiquem as relações sociais estabelecidas e assim servir ao capital. A escola se constitui com fins pedagógicos de classe e como parte da sociedade ela encarna e reproduz as contradições sociais.

O psicólogo intervém buscando as determinações constitutivas da realidade, suas particularidades e demandas institucionais possibilitando um pensamento crítico para produção de novos sentidos. Para Bock (2003) o grupo é entendido como mediação da realidade social e histórica a qual o sujeito configura-se e transforma-se num processo da ordem da intersubjetividade. A subjetividade é construída na relação com o outro através do conhecimento do eu e do outro.

O espaço grupal é o que favorece um processo de reflexão, de conhecimento, re-significação e de promoção de saúde e educação. Tal espaço é privilegiado para o trabalho junto a professores, coordenadores e alunos. Neste espaço as relações cotidianas tomarão forma se revelando junto à sociedade e a instituição que o constitui. O professor é quem pode mudar a escola. Ele é o agente fundamental das decisões referentes ao ato pedagógico e para isso é necessário um olhar para sua própria vida profissional, pessoal e para suas experiências cotidianas na escola e fora dela, para que possam indagarem-se, questionarem o rotineiro, o familiar, os afetos e suas certezas. (BOCK, 2008)

É preciso criar condições para que se descubram através do outro para, assim, re-significarem a si mesmos e a realidade. Isto segundo a mesma autora seria promoção de saúde. Através de suas formas de significar e agir, os professores revelam dificuldades e contradições que se constituem no confronto da negação do instituído. Há nos professores uma vontade de competência ao ensinar, mas não há a devida valorização nestes da reflexão, do questionamento das práticas e das teorias e isso, se dá como uma prática que não incorpora a proposta de promoção de saúde que é a apreensão da natureza política da educação e o caráter social e político do seu fazer. As instituições são espaços de alienação ou de criação de pensamentos e fazeres críticos. O objetivo, assim, é o rompimento do cotidiano e o desafio é a compreensão dos significados construídos e como estes contribuem ou não para a construção de intervenções transformadoras para a criação de nova gestão escolar. (Op. Cit.)

Ainda para a mesma autora, a escola é expressão de interesses sociais, é construção singular de uma cultura e de um social, ela reflete a sociedade e seus problemas não podem analisados como individuais, mas, sim, como problemas da sociedade. O trabalho da psicologia neste campo seria o de combater a construção do fracasso escolar instalando um outro processo de construção das possibilidades de aprendizagem construindo projetos emancipatórios focando a cotidianidade como reveladora de uma ordem social maior sem perder de vista o sujeito na sua singularidade criadora da história e a realidade.

O problema que engloba nossa educação não é financeiro nem estrutural. A educação não se faz com dinheiro, é um equívoco pensar que com mais verbas a educação melhoraria, assim como é um equívoco pensar que com panelas novas e caras o mau cozinheiro fará comida boa. Educação se faz com inteligência, como diria Rubem Alves (2002).

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